O transformismo perigoso de uma toga

Saul Leblon, Carta Maior / Blog das Frases

“O desequilíbrio emocional do relator Joaquim Barbosa na sessão desta 4ª feira do STF escancara o papel híbrido - e temerário - assumido por ele desde o início desse julgamento. Barbosa ora veste a toga de relator, ora de acusador; faz as vezes de juíz e de Ministério Público, ao mesmo tempo e com igual intensidade. Alterna-se nesse trasformismo à sua conveniência e arbítrio. Causa constrangimento seu descontrole. Acima de tudo, preocupa os riscos dessa escalada.

A espiral ascendente desenha uma linha de colisões que atropela os limites e a liturgia da função, desrespeita a presunção de inocência dos réus e agride os demais membros do Supremo. Sobretudo o revisor, no seu papel sagrado de contemplar um segundo olhar sobre cada linha do processo, tem sido alvo da intolerância dessa toga que se evoca uma suficiência ubíqua estranha ao Direito - exceto em um tribunal de exceção.

Em qualquer sociedade onde impera o Estado de Direito, comportamento assemelhado autorizaria arguir se os extremos dessa conduta já não teriam resvalado a fronteira do impedimento. Não basta apenas conhecimento jurídico fascicular. A missão de relator pede serenidade, equilíbrio e grandeza histórica.

Foi esse o sentido da advertência figurativa feita pelo cientista político Wanderley Guilherme dos Santos, quando declarou a Carta Maior: "A cabeça de um juiz não pode pensar como a de um taxista" (leia a íntegra nesta pág).

A figura algo caricata que vai se delineando sob a toga híbrida pode dar razão aos temores mais pessimistas de segmentos democráticos e ecumênicos da sociedade brasileira, signatários de um manifesto de ampla adesão nos meios artísticos e culturais.

A volúpia condenatória ameaça a isenção e o contraditório. São esses os requisitos que diferenciam um julgamento de um linchamemto, mutação abertamente encorajada por certa mídia, mas que não pode contagiar o relator, a ponto de ser capturado como personagem desfrutável de um simulacro de Justiça.”

Comentários

Eduardo Silva disse…
Não concordo.
A parcimônia indicada pelo texto é um argumento falho, o relator não causa constrangimento ao assumir o papel de acusador, já que o STF em toda sua história perdeu credibilidade com a nação brasileira ao desempenhar um papel insosso e pouco rígido. Barbosa leva para as sessões o sentimento de revolta do povo brasileiro mediante aos escândalos de corrupção, a postura do relator transparece integridade e respeito pela verdade, ao contrário do ministro Levandowski que tem se mostrado extremamente "flexível" e tenta nortear este julgamento para mais uma clássica e vergonhosa pizza.
O Brasil está com Barbosa. Esta aprovação popular está diretamente ligada ao poder máximo e por muito tempo ignorado: o poder do povo, o poder da democracia.
Anônimo disse…
Concordo completamente com o amigo Eduardo Silva.
O Brasil, durante toda sua história foi vítima de corrupção e a própria jurisprudência nacional já considerava algo normal, devido ao falho mecanismo de acusação necessário, casos como por exemplo de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
E quando alguns casos conseguiam chegar ao STF nada acontecia. Era de costume do Brasileiro saber que não havia punição para corrupção no país.
O que o Excelentíssimo Senhor Ministro Joaquim Barbosa está fazendo é realmente representar os interesses do Brasil enquanto nação e castigar duramente crimes onde o Brasil estava acostumado a abonar e passar a mão na cabeça do criminoso.
Me desculpe senhor nogueirajr, mas o seu artigo, embora com grande conhecimento científico de causa, é pífio e vergonhoso frente a uma nova jurisprudência que nasce juntamente com o caminhar da Ação Penal 470 que finalmente aparece de forma punitiva para tais crimes e frente ao fato de que finalmente o povo brasileiro, depois de anos sendo enganado, está dando o troco em quem merece.
O Brasil do trabalhador, o Brasil do salário mínimo, o Brasil dos leigos que nem sabem ou entende o que se passa no "mensalão", está com Barbosa.
E o senhor, com quem está? Com Lewandowski?
Anônimo disse…
Aos amigos "anônimo" e Eduardo Silva, muito obrigado. Eu não saberia descrever tão bem, como vocês. Faço das suas as minhas palavras. Tenho certeza que as palavras de muitas pessoas entrarão em ressonância conosco. Que o Ministro Joaquim Barbosa, receba todo o apoio e carinho do Povo Brasileiro nessa batalha contra os "Coronéis" do poder.
Anônimo disse…
Compactuo integralmente com as opiniões expressadas nos comentários.

O artigo perdeu credibilidade com o seguinte argumento: "Sobretudo o revisor, no seu papel sagrado de contemplar um segundo olhar sobre cada linha do processo, tem sido alvo da intolerância dessa toga que se evoca uma suficiência ubíqua estranha ao Direito - exceto em um tribunal de exceção."

Realmente, "coitadinho" do Min. Lewandowski. Faça-me o favor. O tão aclamado revisor do processo, por inúmeras vezes, se recusa a aceitar provas factuais, seguindo sua ÍNTIMA CONVICÇÃO. Nem se preocupando em disfarçar sua "fechada de olhos".
Se por um lado o Min. Joaquim "afronta" a presunção de inocência ("ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória"-> praticamente impossível proferir uma sentença condenatória sem concluir e alegar a culpabilidade/responsabilização do réu), o Ilmo. Revisor se empenha em minar a credibilidade do Poder Judiciário (fazendo-se de "cego" quanto a algumas provas).

O histórico temperamental de Joaquim Barbosa, lembrado em virtude dos embates deste com o Min. Gilmar Mendes (ÚNICO Ministro do Supremo Tribunal Federal a sofrer um pedido de impeachment) é, com toda a certeza, um dos menores males que existe dentro de nossa Suprema Corte.

A referida "espiral ascendente de colisões" resta como um mal necessário, uma última gota de suor que escorre do rosto de um homem/povo que briga contra a impunidade, na tentativa, até então frustrada, de se voltar a espada da justiça contra os principais criminosos deste país.

Você fala de impedimento? E a evidente suspeição do Ministro Toffoli (advogado do Partido dos Trabalhadores, dentre outros cargos renomados)? Quer maior comprometimento do exercicio da função jurisdicional?

Infezlimente, graças à alguns Ministros de nosso STF, para que se alcance um resultado significativo, é necessário que ponhamos os "Vossas Excelências" um pouco de lado...
Daniel disse…
Óhhhh!!!!Obrigado por me avisar viu..Agora ficarei "mais esperto" com esse Sr. Relator ta bom amigão??brigadu mesmo...
Vou considerar sua opinião tirada de sei la qual currutela dessa sua cabeça e vou descreditar a palavra e as concepções de um homem q foi o primeiro negro a ser ministro do STF q é filho de pobre (pobre mesmo!!)e q chegou aonde esta por qual caminho será? ELE COMPROU OQ OU QM PRA ESTAR LA AMIGO?presta atenção no q esse homem ta fazendo agora e talvez seu filho ou seu neto um dia poderão viver num pais melhor devido ao q JOAQUIM BARBOSA esta fazendo agora, reveja seus conceitos, pq tanto pragmatismo de sua parte? alias , bem fracos seus argumentos do ponto d vista pratico, portanto ..va te cata....JOAQUIM PRA PRESIDENTE!!!!!
Bruno disse…
Discordo do Edurado silva quando diz "ao contrário do ministro Levandowski que tem se mostrado extremamente "flexível" e tenta nortear este julgamento para mais uma clássica e vergonhosa pizza".

O papel dele é de analisar o processo em seus aspectos técnicos. É de certa forma mostrar que se por aspectos técnicos o réu não apresenta comprovação de que participou do certame, existe sim meios de ocultar todo o mensalão, porém é necessário mais do que isso para inocentar os meliates.

Pena mesma é a participação de Dias Toffolli, que nada acrescenta para o processo, pois não leva em consideração esses aspectos, como Levandowski. E sua proximidade com José Dirceu e toda cúpula do PT só põe em cheque o seus votos e a imparcialidade com que os faz.