Mauro Santayana, Blog: Mauro Santayana
“Uma sociedade
que envia seus jovens ao mundo inteiro para matar, em nome dos negócios, não
pode espantar-se com os massacres de seus adolescentes e suas crianças, como o
de Columbine, e o de anteontem, em Newtown, em Connecticut. Muito
da cultura norte-americana tem sido, desde a guerra deliberada contra os índios
e o avanço para o Oeste, uma cultura da morte. Para formar exércitos de
assassinos, é necessário adestrar seus possíveis integrantes para matar
sem vacilações. Para isso é preciso criar os mitos, como os do heroísmo, da
coragem, da ousadia, da força física, da astúcia dos predadores, contra
os povos indefesos do mundo inteiro. É preciso reduzir o homem ao réptil que
foi na origem dos tempos.
Ao mesmo tempo,
essa sociedade tem dado ao mundo excepcionais pensadores, escritores e
cineastas que, de certa forma, procuram compensar a brutalidade construída para
a defesa dos poderosos titãs das finanças e das corporações industriais que, há
mais de cem anos, vem conduzindo a economia e a política internacional, em seu
proveito.
A idéia de matar
é estimulada nos americanos desde a infância. Na adolescência, a arma de fogo,
para muitos, é símbolo da masculinidade. E esse apego à violência e ao sangue
tem sido exportado ao mundo inteiro pela sua fantástica indústria do
entretenimento, na literatura, no cinema e, mais recentemente, nos jogos
eletrônicos e nos enlatados da televisão.
A intimidade com
o sentimento da morte gera também o medo, o pânico, e a vontade paranóica do
suicídio. Todos os massacres nos Estados Unidos, e os que se repetem, por
emulação, quase sempre terminam com a morte ou o suicídio dos assassinos.
O massacre de
sexta-feira foi o mais pavoroso dos últimos anos. Como lembrou o presidente
Obama, as crianças jamais conhecerão a adolescência, a alegria do amor da
paternidade e da maternidade. Morreram por nada e, por nada, morreu o assassino.
Não há mais, no
mundo, espaço para a segurança e a paz. A pequena cidade onde houve a tragédia
era um oásis de sossego em Connecticut, um pequeno estado da Nova Inglaterra
preferido por intelectuais e artistas americanos. Nos últimos dez anos, de
acordo com as notícias, nela só houve um homicídio.
Preocupam-se
muitos em salvar os animais em extinção, como os primatas, as serpentes, os
tigres. É bom que sejam salvos: habitam o nosso mesmo mundo. Mas o homem já se
encontra em extinção há muito tempo, esvaziado que se encontra do humanismo que
o distinguia da vida selvagem. Estamos voltando à pré-história, mas dotados de
fuzis, metralhadoras, mísseis e armas nucleares.
Ainda estamos
chorando as crianças mortas, mas se o mundo continuar assim, de nossos olhos
não descerão mais as lágrimas do sofrimento.”
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