Marina Silva e
Eduardo Campos: opção programática? (José Cruz/ABr)
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“Ex-senadora, que abraçou a tese da
“perseguição política” para justificar entrada pragmática no PSB, dificulta a
realização de um 2º turno ao não sair como candidata à presidência
Glauco Faria, Revista Fórum
“Qual a diferença se for Aécio Neves,
Eduardo Campos ou a Dilma? Tem diferença em relação ao modelo de
desenvolvimento? Me parece que até agora todos estão no mesmo diapasão.” Era
essa a opinião da então pré-candidata à presidência da República Marina Silva
em entrevista
concedida ao Estadão, em 23 de março deste ano. Em visita a Pernambuco, em
maio, ela respondeu, ao ser indagada se haveria identificação
programática com o PSB: “Vocês já perguntaram a ele (Campos) se ele tem
identificação programática com a Rede?”.
Marina respondeu hoje a seu próprio
questionamento de poucos meses atrás, após ver durante a semana o registro de
seu partido, a Rede Sustentabilidade, ser negado pelo TSE. Ela anunciou sua
adesão ao PSB e à candidatura Campos ao Planalto em 2014, ainda sem dizer se
seria vice ou candidata a algum outro cargo pelo partido.
Atribuir a culpa de uma estratégia equivocada às “forças ocultas” não é algo exatamente novo na política brasileira. Basta lembrar de Jânio Quadros.
Culpar o juiz é uma tática velha também no futebol, quando jogadores, técnicos ou dirigentes querem desviar a atenção dos próprios erros e achar um inimigo externo. Mas a intenção de Marina ao ocupar boa parte do seu discurso com queixas sobre perseguição política é também justificar a entrada no PSB, um partido que tem vícios e virtudes semelhantes a quase todos os que compõem o quadro partidário brasileiro.
O problema é que toda a trajetória da ex-senadora até aqui, desde que saiu do PV, é fazer a crítica de cunho moral aos partidos. Suas atitudes conduzem a uma interpretação de que o cenário institucional brasileiro pode ser avaliado pela divisão simplista entre “bons” e “maus”, colocando em um plano secundário, por exemplo, uma reforma política discutida com a sociedade civil, que poderia sanar parte das falhas gritantes do sistema político-eleitoral. A formação da Rede era a reafirmação desse tipo de pensamento, de que seria possível jogar o jogo dentro das regras que estão aí, contanto que se juntassem os “bons”.
Frustrada sua expectativa, Marina teve que jogar o jogo sem se juntar necessariamente aos que achava serem os “bons”. E justificou isso com o discurso da perseguição, como se fosse quase uma legítima defesa. Citou em sua fala o poeta Thiago de Mello, mas poderia ter feito referência a Raul Seixas: ‘A arapuca está armada/E não adianta de fora protestar/Quando se quer entrar em buraco de rato/De rato você tem que transar”. Afinal, uma adesão “programática” não se decide em uma madrugada, a não ser que o “programa” seja algo frágil.
Com a união, levará parte de seus apoiadores para Campos, ainda desconhecido de parte do eleitorado. Contudo, verá alguns deles migrarem para Dilma, perdendo também a confiança de outros que optarão pelo branco/nulo, já que acreditaram que ela seria “diferente”, não entrando na peleja a qualquer custo. O fato de abrir mão da candidatura à presidência para exercer um papel teoricamente menor não é apenas uma questão de abdicação ideológica, como tenta sugerir, mas cálculo político pragmático, já que as outras opções acarretariam vários riscos com arranhões ainda maiores à imagem (caso de filiação ao PPS, linha auxiliar tucana, por exemplo) ou absoluta falta de estrutura para uma empreitada do tamanho de uma candidatura presidencial, se a escolha fosse pelo PEN ou PHS. A Marina de 2013 sabe que não pode sustentar uma campanha apenas “sonhática” pela internet, já que os 20% de votos válidos alcançados em 2010 a fizeram sentir de perto a possibilidade de chegar ao poder.
No cenário de 2014, obviamente o principal
beneficiário é Eduardo Campos, que ganha visibilidade com um fato político
grandioso e tem chances de avançar em um segmento, o dos jovens que estão nas
redes e não necessariamente na Rede, simpatizantes de Marina. No entanto, o
maior perdedor é Aécio Neves. Para ele, seria melhor que a ex-senadora saísse
como candidata a presidente, reproduzindo um cenário semelhante ao de 2002, no
qual quatro candidaturas fortes levaram a eleição para o segundo turno, algo
que se repetiu, com diferenças, em 2006. Em 2010, ainda que fossem apenas três
os candidatos competitivos, o segundo turno foi possível porque não havia
possibilidade de reeleição para o então presidente Lula, o que criava
dificuldades para sua candidata, Dilma Rousseff.
O cenário atual pode remeter à eleição de
1998, quando FHC venceu ainda no primeiro turno, enquanto Lula, mesmo com 31,6%
dos votos, não conseguiu levar a eleição à segunda volta porque havia somente
mais um postulante competitivo, Ciro Gomes, com 10% ao final. A diferença é
que, agora, com dois candidatos que nunca disputaram a presidência antes, as
dificuldades são maiores para a oposição, com um grande risco de parte do
eleitorado, cansado da polaridade entre PT e PSDB, optar pela terceira via de
Eduardo Campos. Como Dilma tem mais popularidade e votos do que os rivais na
atual situação, o quadro se torna sombrio para Aécio, que teria uma tarefa
dupla: forçar um segundo turno e bater um candidato que, até certo ponto, tem
um perfil parecido com o seu, agora fortalecido pela adesão da ex-senadora.
Se Marina agiu com o fígado, como pensam
alguns, ao embarcar na canoa de Campos para tentar atingir Dilma, pode ter
ferido de morte as pretensões de Aécio.”
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