Insatisfeitos com transferência de padres, fiéis intensificam pressão contra D. Odilo

Cardeal brasileiro Dom Odilo Scherer gesticula durante missa na Igreja de Quirinale, em Roma. 10/03/2013 (Foto: Tony Gentile / Reuters)

Mário Sérgio Cruz, Terra Magazine

"Insatisfeitos com a transferência dos párocos de suas igrejas, previstas para fevereiro, e com a falta de diálogo junto à Arquidiocese de São Paulo, um grupo de fiéis de quatro paróquias da Região Episcopal Ipiranga, em São Paulo, estuda organizar protestos a partir do dia 13 de janeiro.

É nessa data que, segundo informações da Arquidiocese, Dom Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, retorna de viagem de férias tendo como compromisso solucionar o impasse com os paroquianos que já fizeram um pedido de audiência com o Cardeal sobre as razões que levaram à substituição dos párocos nas igrejas Imaculada Conceição (pároco Benedito de Abreu), Nossa Senhora do Sion (José Geraldo Moura Rodrigues), Santo Afonso (Márcio Manso) e Santa Rita (Celso Paulo Torres).

Caso o encontro não ocorra, os fiéis estudam dois tipos de protestos: Uma manifestação em frente à Cadedral da Sé, igreja mãe da Arquidiocese de São Paulo, ou ainda uma vigília religiosa em frente à residência do Cardeal no bairro da Luz, também na região central da capital paulista.
"Nós não somos apenas massa. Queremos participar dessas discussões de nossos representantes na igreja, e sem desrespeitá-los. Por isso estamos pensando na medida mais plausível", afirma Beatriz Velicu, integrante da Pastoral da Juventude de São Paulo e do Conselho de Leigos da Arquidiocese de São Paulo (Clasp).
Assinado por leigos das quatro igrejas, um e-mail foi enviada em 17 de dezembro à Arquidiocese solicitando que as transferências dos padres sejam revogadas e que essas comunidades possam ter uma audiência com Dom Odilo. Sem obter resposta, o movimento, que ganhou o nome de "Quero nosso pároco", disponibilizou no dia 26 de dezembro um abaixo-assinado na internet. Até a publicação da reportagem já foram recolhidas 346 assinaturas. 
"Não há nada que justifique essas mudanças. Não houve nenhum desmando econômico ou moral. Foi uma medida autoritária", diz Edson Silva, presidente do Clasp, valendo-se dos artigos 1.740 a 1.752 do Direito Canônico que dizem que  um padre só deve ser afastado em casos que "colocariam em risco a salvação da alma dos fiéis".
Representantes do movimento acreditam que as transferências visam retirar o poder de padres que divergem da linha política conservadora da Igreja, à qual articuladores do protesto dizem pertencer o cardeal Scherer. 
Isso porque parte dos padres afetados pela mudança são classificados pelas comunidades como "moderados" ou "progressistas", por darem maior abertura à participação popular e também por trabalharem junto a movimentos sociais com pessoas de baixa renda, filhos de presos e moradores de áreas de risco. 
"Os padres eram muito próximos das comunidades e davam uma abertura para que participássemos da igreja muito maior que um padre conservador daria", comenta Felipe Santana um dos articuladores do grupo "Juventude Contra O Príncipe", formado por jovens de toda a cidade, católicos ou não, que sejam simpáticos à causa.
"Nossa maior mágoa é com a maneira com que isso foi conduzido, já no fim do ano. Não houve tempo hábil de comunicar as comunidades e muitos paroquianos, que estavam fora da cidade, foram pegos de surpresa", complementa Santana.
Três outras igrejas na Região Ipiranga também terão trocas: Santa Cândida (pároco Jorge Bernardes), Santa Cristina (Wilson dos Santos) e Nossa Senhora de Fátima (João Cícero). Entretanto, os fiéis não participam das mobilizações. 
Texto publicado no blog do movimento diz que as notificações das transferências foram dadas às vésperas dos aniversários de ordenação dos religiosos. Alguns receberam um telegrama do Cardeal e outros foram avisados por ele na sacristia da Catedral da Sé e que um padre ficou sabendo de sua remoção pelo Facebook.
Em 28 de dezembro, cerca de trinta representantes dos fieis se reuniram em assembleia na igreja Nossa Senhora Aparecida com o Vigário Episcopal para a Região Ipiranga, o Padre Anísio Hilário, que reiterou as transferências que este é um processo rotineiro dentro da igreja católica. "Ele não estava aberto às nossas ideias e se manteve totalmente irredutível. Isso acabou entristecendo muitas pessoas que estavam lá na reunião. Eu mesma, saí decepcionada", afirmou Beatriz Velicu.
Outro lado
Procurado pela reportagem, o padre Anísio Hilário disse que não se pronunciará sobre o caso até a volta de Dom Odilo a São Paulo, prevista para o dia 13 de janeiro. 
A Arquidiciocese reconhece que há um pedido de audiência entre Dom Odilo e representantes do movimento "Quero nosso pároco", mas que ainda não há confirmação do encontro exatamente por conta da ausência do Cardeal. 
Raio-X das trocas de párocos:
- Imaculada Conceição: Benedito Vicente de Abreu (vai para a Paróquia Santo Afonso em fevereiro).
- Nossa Senhora de Fátima: João Cícero (conservador e vai para Santa Cândida em fevereiro)
- Santa Cândida: Jorge Bernardes (vai para a Santa Rita de Cássia em fevereiro)
- Santa Cristina: Uilson dos Santos (vai para a Nossa Senhora de Fátima em fevereiro)
- Santo Rita: Celso Paulo Torres (vai para Nossa Senhora do Sion em fevereiro)
- Santo Afonso: Márcio Manso (vai para Santa Cristina em fevereiro)
- Nossa Senhora do Sion: José Geraldo Rodrigues (será transferido para região Episcopal Belém, em data indeterminada)"

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