Manchete errada para noticia velha


Paulo Moreira Leite, Blog: Paulo Moreira Leite

O Globo publicou na manchete de hoje do uma notícia falsa como uma nota de 3 reais. Leia:

“Campanha da Dilma muda após delação de corrupção milionária,” disse a primeira página do jornal.

Conforme o Globo, a entrada do ministro Miguel Rossetto, do Desenvolvimento Agrário, na coordenação da campanha de Dilma foi realizada como uma resposta às denúncias de Paulo Roberto da Costa. Segundo a versão, a chegada de Rossetto teve como finalidade enfraquecer o deputado Rui Falcão, presidente do PT, que pertence a mesma corrente petista ligada ao escândalo da Petrobras.”

O problema é que se trata de notícia velha e errada. “PT monta força-tarefa para enfrentar alta de Marina,” disse manchete do Estado de S. Paulo, na manhã sexta-feira, vinte e quatro horas antes da VEJA chegar as bancas com a reportagem sobre a delação premiada.

Assim, três dias antes do Globo, o Estadão noticiou — na primeira página — que a equipe de Dilma seria reforçada não apenas por Miguel Rossetto, mas também por Gilberto Carvalho e por Ricardo Berzoini. Não havia notícias confirmadas sobre a delação premiada, naquele momento. A VEJA sequer chegara às bancas. Havia sim uma nova situação política.

Poucas semanas depois da tragédia que matou Eduardo Campos, quando Marina Silva já havia ultrapassado Aécio Neves, a campanha de Dilma procurava ampliar-se e buscava reforços. Essa era a notícia. Quem foi ao encontro com Luis Inácio Lula da Silva, na noite de sexta-feira, encontrou Ricardo Berzoni. No mesmo dia, a tarde, Rui Falcão comandou uma reunião do Diretorio Nacional do Partido, cabendo-lhe, depois, apresentar as decisões aos jornalistas. Rossetto e Gilberto Carvalho estavam com Dilma, no domingo, quando a presidente recebeu os jornalistas para uma entrevista coletiva.

Para supor que a entrada de Miguel Rossetto pudesse representar o crescimento de uma tendência no comando da campanha implica em ignorar as proximidades e conexões dos outros ministros que chegaram com Rossetto, na mesma leva. Se fosse para falar em guerra de alas petistas, era preciso reconhecer que os adversários de Rossetto ganharam duas vagas contra uma.

Jornais do mundo inteiro cometem erros. O curioso é cometer um erro tão fácil de ser evitado, pois estava na manchete do Estado de S. Paulo, publicação que compete com o Globo e com a Folha pela posição de liderança dos grandes jornais brasileiros.

Os mais inteligentes analistas dos erros da imprensa nem sempre ficam indignados com a publicação de notícias falsas. Sabem que errar é humano. Apenas lembram que é bem mais instrutivo perguntar por que notícias erradas acabam saindo, quando era tão fácil trocar a informação errada pela certa. Basta perguntar quem ganha com o erro.

O efeito da manchete errada é claro. Enquanto ninguém sabe dizer, precisamente, o que, e quem Paulo Roberto Costa delatou, a notícia de que o caso provocou uma troca de guarda na campanha de Dilma ajuda a dar credibilidade a uma história que ninguém sabe direito qual é. Vale tudo contra Dilma?
É fácil entender, não?"

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